sexta-feira, março 28, 2008

Tudo que amadurece demais apodrece.

quarta-feira, março 26, 2008

Nosso imediatismo e nossa impaciência quanto às soluções que nos tirariam do atraso, dão a impressão de estarmos há muito tempo prontos para o progresso. Será isso mesmo? E se um dia, nós, brasileiros, por passe de mágica, dormíssemos e acordássemos no Primeiro Mundo? Abriríamos os olhos e lá estaria diante de nós o tão sonhado desenvolvimento; tudo certinho, limpinho, no horário...
Toda essa pressa e desespero indicam que já nos "curamos" de tantos anos vividos no atraso, e finalmente estamos preparados para suportar tão pesada responsabilidade? Ou teremos nascido para o Terceiro Mundo? Será nossa indiferença tão natural quanto nosso bronzeado, como se fosse algo definitivamente herdado?

segunda-feira, março 24, 2008

Tenho quase certeza que viverei até o último dia da minha vida sendo sempre um cidadão do Terceiro Mundo. Meus direitos e meus deveres me trarão sempre o rótulo do subdesenvolvimento. Talvez eu ainda ponha os pés lá no hemisfério norte pelo menos pra testemunhar e sentir o gostinho do progresso. Mas nunca estarei "em casa" no Primeiro Mundo. Nunca falarei o português daqui como língua oficial de um país de Primeiro Mundo. Me sentiria sempre um estranho, um intruso ou mão-de-obra para serviços desqualificados se tivesse decidido viver acima da linha do Equador.

terça-feira, março 18, 2008

Como é pequeno e modesto o nosso querer! Nascemos cheios de vontade e morremos apenas com as marcas da sobrevivência. E são tantas, que já nem deixam espaço para nossos mais nobres desejos. O pouco que sobra é o nosso pão e circo, nossa ração espiritual. É tudo aquilo que nos faz reféns do supérfluo e inimigos do necessário.
E a vida em sociedade? Terá sido acidente, conquista ou necessidade?

quinta-feira, março 13, 2008

Ouço muitas pessoas dizerem não se arrepender de nada; quase nenhuma, porém, diz o contrário. Eu, nesse caso, pertenço à minoria. Todos os dias eu me arrependo de alguma coisa. São sempre aquelas palavras a mais ou a menos, ou aqueles gestos muitas vezes excessivos ou muitas vezes insuficientes que, mal saem de nós, já trazem a sensação imediata e inequívoca do arrependimento. Somos simplesmente submetidos. E o que faz o ser humano diante dessa arbitrariedade?
Quando temos a sensação da fome, comemos. Bebemos quando temos sede e dormimos quando temos sono. Mas, quando invadidos pela sensação do arrependimento, tratamos logo de ignorá-la, como se não tivéssemos que dar ouvidos aos apelos de nossa voz interior; como se fosse virtude transformar tudo aquilo que incomoda e atormenta em nossos fantasmas para depois calá-los. E ignoramos, assim, que o próprio arrependimento é talvez nossa maior virtude; talvez até maior que o perdão. E cada um que não se arrepender, considera o outro apenas em relação a si mesmo, o que seria o fim da vida em sociedade. Ou, na melhor das hipóteses, voltaríamos para as cavernas, de onde na verdade o homem nunca quis sair.

sábado, março 08, 2008

Às vezes eu fumo pra ter certeza que não vale a pena.

sábado, março 01, 2008

Eu vi, em Carandirú, a cena que mais me mostrou como é a impunidade no Brasil. Aqui, vale tudo. Na Europa, o cara invade o campo e fica cinco anos sem ir no estádio. Aqui, torcida é quase milícia. Vão ao jogo com arsenal de guerra. Depois, saem batendo em todo mundo, quebrando tudo e nada acontece.
A cena do filme mostra exatamente isso. Depois do massacre, o sangue espalhado que acabara de jorrar, vai, aos poucos, desaparecendo sob o manto de água e sabão que escorre pelas escadas do pavilhão. Não há personagens, nem texto. A imagem diz tudo. É como o lixo varrido pra debaixo do tapete. Lavaram o sangue e tudo fica como se nada tivesse acontecido.