Edgar reencontra Esmeralda no supermercado. Era um sábado à tarde, pouca coisa depois das cinco. Haviam se visto pela última vez na residência de Beto, amigo comum que, na ocasião de sua partida para uma nova vida em outro país, convidara-os para beber alguma coisa e lhes dar o último adeus. Desde então um bom punhado de anos os separara, não tendo havido nessa avalanche de tempo sequer um sinal de fumaça em prol da antiga amizade.
De forma como se não acreditasse na própria visão, Edgar, já tendo notado minutos antes que se tratava de Esmeralda, preferiu esconder-se em vez de prontamente abordá-la. Pôs-se num canto onde não pudesse ser facilmente visto e, enquanto procurava as palavras certas para dar início a uma conversa, sentiu fracas as pernas, trêmulas de aflição. Notou também, pelo volume da compra, que deveria haver novas pessoas na vida de Esmeralda, que com elas talvez formasse agora uma família, pois se residisse só, apenas recebendo visitas, não necessitaria de todo aquele alimento. Por fim, forçando um ar natural, meteu-se entre os corredores à procura de Esmeralda, logo a vendo esticada sobre a ponta dos pés, já que a pouca altura não alcançava o alto das prateleiras. Porém, até aos mais duros será difícil negar, quando o que está em questão seja escolher entre a coincidência ou o destino, que a única razão da desagradável dificuldade de Esmeralda era por a seu serviço o auxílio de Edgar facilitando-lhe a vida.
Ao contrário do que imaginara, Edgar não percebeu em Esmeralda nenhuma dificuldade em reconhecê-lo. Olhava-o com o mesmo olhar cúmplice de sempre. A nítida expressão de familiaridade no rosto dela fê-lo vislumbrar que nunca estiveram realmente distantes e que ainda permaneciam imunes aos estragos deixados pelo silêncio e pela passagem do tempo.