sábado, julho 11, 2009

Volte a sorrir

Depois de agredir meu estômago com dois belos e calóricos pedaços de pizza acompanhados de uma tampouco recomendável Coca-Cola em lata, procuro no balcão da padaria um singelo guardanapo para retirar o limbo gorduroso que fica sempre de lembrança nos arredores da boca. Até esse dia eu ainda acreditava que nem tudo era negócio, e que a verdadeira felicidade nunca estivera ao alcance do dinheiro. Para minha surpresa, entretanto, vejo no inocente guardanapo o anúncio de uma empresa de implante dentário. De súbito me dou conta do mesmo serviço sendo oferecido durante a programação das mesas-redondas que debatem nosso futebol e nos programas da tarde, esses voltados mais para as mulheres, embora em ambos, o que de fato interessa aos anunciantes, é a baixa posição em que a grande maioria da audiência desse tipo de entretenimento se encontra. E há lugar mais formidável para anunciar um serviço como esse do que um pedaço de papel cuja única utilidade é limpar a boca que, no caso de milhões de brasileiros e brasileiras, esconde sequer alguns poucos dentes que ainda restaram inteiros? Certamente a parte mais sedutora do anúncio é a promessa de que o implante trará de volta ao bangela o sorriso durante anos reprimido e aprisionado dentro da boca. Nisso não lhe condeno, porque já julguei como infeliz quem não sorria apenas por vergonha. Aí me pergunto quantos dentes tem que ter um sorriso para ser de felicidade e se realmente basta a alguém sorrir para ser feliz. Mas para o alívio dos desdentados - e ao contrário do que eu pensava - até felicidade o dinheiro compra.