quarta-feira, abril 08, 2009

Semanas atrás dei um pulo no supermercado. Minhas compras não ultrapassaram o volume que me garante o caixa-rápido. Aguardava minha vez na fila quando bati o olho nas revistas semanais que ao mesmo tempo formam uma espécie de corredor de espera. Uma delas dava na capa a reportagem sobre o deputado acusado de erguer um castelo com verba suspeita. O senhor na minha frente não se conteve: "Dá pra confiar num cara desse?"
Logo em seguida - num sincronismo orquestral - toda a clientela ali próxima se deu conta de que a quantidade de compras daquele senhor era visivelmente muito maior que a permitida. A princípio, ninguém abriu a boca - tampouco a esposa e a filha que o acompanhavam; e por isso mesmo nunca saberei se por parte delas houve incentivo, ou se, mesmo contrárias àquele mau exemplo, se calaram em prova de lealdade, dando mostra de que as grandes virtudes servem também aos piores propósitos.
Eu já divagava sobre o futuro da humanidade quando a senhorita do caixa, no cumprimento do seu dever, me trouxe de volta à realidade: "Nota fiscal Paulista, senhor?" Respondi que não. Digitei a senha, guardei no bolso o recibo e saí pensando em quem podia confiar.