sexta-feira, janeiro 16, 2009

Pelo menos é honesto
Por ter aproximadamente quarenta minutos de tempo livre no horário do almoço, todos os dias depois da refeição eu pego o carro e me dirijo até o boteco de sempre para comprar o cigarro solto que eu fumo ouvindo as músicas que saem da Jukebox. Fumo avulso para me sentir menos dependente, porque se tenho o maço todo por perto fico mais próximo do vício. Além das canções a radiola exibe também pequenos vídeos que à primeira vista parecem não ter relação alguma entre si, mas se vistos repetidas vezes nota-se que há em todos alguma forma de violência. Assisti pela primeira vez Muhammad Ali cair num desses vídeos. Nunca mais me esqueço disso, porque desde que me interesso por boxe sempre me perguntei se ele já havia caído em combate. Todo mundo cai um dia.
Há três dias a luzinha de bateria acesa no painel do carro indica haver algum problema que eu vinha negligenciando e que já havia decidido resolvê-lo no fim de semana. Na quinta-feira - como manda o ritual - terminei minha refeição e segui rumo ao boteco. Logo depois de estacionar vi uma placa presa no poste em frente que anunciava: "CASA DE BATERIAS HUMAITÁ". Tratei o anúncio como se fosse um desses sinais sobrenaturais, enviados com destinatário certo, que certas vezes tememos ignorar. Minutos depois o diagnóstico do funcionário: "É o alternador. Leva ali no Mosquito que ele dá uma olhada". Imaginei pelo apelido um esqueleto frágil incapaz de qualquer tarefa que exija o mínimo de força física. Por desconfiança eu quis um parecer quanto às aptidões do Mosquito no que diz respeito ao cumprimento do seu ofício, mesmo sabendo de antemão que o rapaz se pronunciaria a favor da sua indicação apesar de qualquer evidência que justificasse alguma suspeita.
Mas a verdade, entretanto, é que em certas ocasiões às vezes um consolo vale mais do que um diploma empoeirado pregado na parede. "Ele é bom?", perguntei. "Ah, é honesto, pelo menos."